Paula Chaves Teixeira-PPGH-UFF-Bolsista de Doutorado do CNPq (Brasil)
Comerciantes, contratadores e redes clientalares nas Minas do Ouro: caminhos para a construção da riqueza, inserção social e prestígio (Brasil colonial, 1765-1797)
O objeto deste artigo é o estudo da atuação das redes de clientela e vizinhança nos processos de construção da riqueza através da participação dos sujeitos no comércio interno à capitania das Minas do Ouro, Brasil, e apropriação de cargos da administração colonial. A partir do enfoque dado às relações entre poder e sociedade, buscamos compreender as estratégias familiares e econômicas traçadas por um grupo de fazendeiros e comerciantes do interior da comarca do Rio das Mortes como uma ação política, que visava, através do controle de cargos político-administrativos e da participação no comércio regional, a criação de oportunidades para construir e/ou reproduzir riquezas e prestígios.
Pensar as relações estabelecidas entre sociedade e Estado permite-nos observar, sobretudo, a natureza e a gênese do poder local implantado. E, neste contexto, podemos observar também o processo de formação das hierarquias sociais e das cadeias de amizades assimétricas entre os sujeitos coloniais. A participação no Estado, através da posse de cargos administrativos, permitiu aos grupos dominantes impor seus projetos políticos e, com o controle da máquina administrativa, criar vínculos de interdependência com outros grupos situados em diferentes esferas de atuação, esferas que se caracterizam por ser vertical e horizontalmente diferenciadas, além de se constituírem em níveis intra-regionais e inter-regionais. Esta interpretação de poder nos auxilia na compreensão da lógica de movimentação dos sujeitos históricos, pois possibilita enquadrar as articulações dos indivíduos dentro de uma percepção de mundo que lhes foi peculiar.
Neste sentido, o artigo pretende refletir sobre as relações locais e regionais tecidas pelos sujeitos históricos a partir da apropriação e da forma de reprodução local de uma estrutura de dominação e imposição do poder do Estado sobre os indivíduos. Portanto, abordaremos os caminhos traçados na formação das redes de clientela e o processo de construção da riqueza em Minas Gerais. Porém, cabe ressaltar que a pesquisa está na fase inicial apresentando, assim, poucos resultados. Para o desenvolvimento do estudo proposto, recorremos às cartas enviadas ao arrematador do contrato do dízimo Manoel Pereira Alvim, no período entre 1765 a 1797. Elas fazem parte do fundo Casa dos Contos de Ouro Preto, seção avulsos e estão alocadas nos acervos da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro e no Arquivo Público Mineiro, em Belo Horizonte. São cerca de 240 cartas, nos dois arquivos, endereçadas ao arrematador, remetidas por diversos negociantes e fazendeiros sediados em vários pontos do território das Minas do Ouro e no Rio de Janeiro.
A base empírica da pesquisa permite o mapeamento da “origem”, o processo de formação da rede de clientela, da qual vários fazendeiros e comerciantes, meus personagens, foram herdeiros na primeira metade do século XIX. Além disso, ela permite adentrar o universo das relações comerciais, observando a dinâmica e cultura mercantil e o processo de construção de riqueza ainda no período colonial nas Minas. Este trabalho constitui uma tentativa de compreensão do processo de formação das redes de clientela e os caminhos para o enriquecimento na capitania mineira por uma leva de lusitanos que rumaram para a região em meados do XVIII e obtiveram sucesso no empreendimento.