Ferrovias, cafeicultura e produtos de abastecimento interno – 1890-1920 (Município de Franca – Esta

Ponencia Lélio Luiz de OLIVEIRA

Lélio Luiz de OLIVEIRA (Departamento de História, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, UNESP)

A historiografia brasileira, dedicada às grandes sínteses, enfatiza sobremaneira a influência da ferrovia – dos caminhos de ferro – como fator preponderante para o avanço da cafeicultura no Estado de São Paulo – Brasil – nas décadas finais do século XIX e décadas iniciais do XX. Nas pesquisas, o café – produto mais lucrativo e destinado ao mercado internacional – aparece de forma quase hegemônica nas relações comerciais e indutor dos investimentos e de lucratividade dos meios de transporte, notadamente a ferrovia.

Em trabalhos de âmbito regional e local é possível perceber o real dinamismo que a ferrovia teria provocado, não somente em relação à cafeicultura, mas também em relação aos produtos destinados ao abastecimento interno do país.

Nosso estudo tem como objetivo demonstrar que a ferrovia e a cafeicultura implantadas no Município de Franca, região nordeste do Estado de São Paulo – Brasil, nos anos finais do século XIX e início do XX, não promoveram a erradicação das atividades tradicionais destinadas ao mercado interno e não gerou um domínio monocultor. Pelo contrário, o novo meio de transporte dinamizou as atividades existentes – agropecuária – facilitando o escoamento de safras, dando maior incentivo à produção. As mercadorias antes carregadas por mulas ou carros de boi tiveram seus fretes reduzidos gerando maior competitividade. Inserido em propriedades rurais, com estruturas tradicionalmente voltadas para o abastecimento do mercado interno, o café, em Franca, passou a ser mais uma das atividades dessa economia diversificada. Em suma, o objetivo é demonstrar os diferentes impactos promovidos pela ferrovia, o que pode contribuir para novos estudos comparativos.

Além da bibliografia pertinente, nosso trabalho sustenta-se em documentos como Relatórios da Diretoria da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro, Relatórios da Secretaria de Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo, Recenseamentos agrícolas e populacionais do Brasil, Documentos da Câmara do município de Franca-SP, jornais, além de escrituras de compra e venda e inventários post-mortem. Os dados obtidos nos documentos foram tabulados e confrontados no sentido de comprovar nossas hipóteses. Sabendo-se que as taxas de crescimento dos produtos embarcados na ferrovia, no período estudado, foram crescentes não somente de café, mas também de animais (bovinos, equinos e suínos), alimentos e cereais, toucinho e fumo. Como resultado final, a ferrovia e a cafeicultura serviram para dinamizar a produção agropecuária anteriormente implantada.