Os sinuosos caminhos da guerra: Estratégias cativas em tempos belicosos (RS, séc. XIX)

Daniela Vallandro de Carvalho (UFRJ, Brasil)

Nos idos de 1834 o campeiro Francisco Cabinda, de propriedade de uma senhora residente no Uruguai foi alugado a um conhecido de sua dona para trabalhar em Piratini, na província do Rio Grande de São Pedro. Dois anos e meio se passaram quando Francisco e João Benguela foram recrutados pelas tropas rebeldes ao império brasileiro. Após serem arrebanhados, os dois africanos foram remetidos a casa de um irmão de Bento Gonçalves (líder farroupilha). Lá conheceram um Juiz de Paz que lhes disse “que fossem para o exército, pois logo que a guerra acabasse eles seriam forros”. Esta informação, contada elo próprio Francisco em 1839, quando prestava depoimento sobre sua situação - na Casa de Correção da Corte Imperial - para onde havia sido remetido de Montevidéu, depois do Cônsul brasileiro no Uruguai desconfiar de sua condição de liberto, deixa transparecer inúmeras considerações sobre as experiências cativas em tempos de guerra. Neste sentido, conduzidos pelos caminhos percorridos por Francisco pretendemos tecer considerações sobre a mobilidade, autonomia, opções e estratégias cativas pela belicosa fronteira meridional entre a província de São Pedro e o Estado Oriental. A história de Francisco se soma a outras para falarmos de opções possíveis existentes pela fronteira em guerra. Não são poucos os cativos que fogem da Província sulina durante os anos da revolta regencial – e mesmo nos anos imediatos ao seu término – e se apresentam em alguns departamentos orientais, tanto à polícia como ao exército. É destes variados caminhos – físicos e estratégicos – seguidos pelos escravos rumo a uma vida menos hostil que queremos falar.